Cada criança ou adulto com transtorno do espectro autista (TEA) tem características e desafios únicos. Por isso, não existe um protocolo de tratamento que atenda a todos os casos.
O plano de intervenção deve ser elaborado individualmente para abordar as necessidades específicas de cada indivíduo. Os objetivos principais das terapias são: minimizar os sintomas e comportamentos inadequados, estimular o desenvolvimento cognitivo e cultivar habilidades. A abordagem deve cultivar a independência da criança e sua participação na sociedade.
Os maiores benefícios do tratamento são alcançados quando ele é iniciado precocemente, antes dos três anos de idade. Por isso, ficar atento aos sinais e fazer o diagnóstico rapidamente é extremamente importante.
Entretanto, não devemos negligenciar a intervenção em crianças mais velhas e adultos, que também podem obter bons resultados com terapias bem indicadas e aplicadas.
Objetivos das intervenções no autismo
- Minimizar as deficiências nas áreas da comunicação e interação social, para uma melhor integração da criança à sociedade.
- Melhorar comportamentos relacionados a interesses restritos e ações repetitivas.
- Estimular a independência funcional por meio da aquisição de habilidades adaptativas.
- Eliminar, minimizar ou prevenir questões comportamentais que podem interferir nas habilidades funcionais.
Equipe multidisciplinar
O plano de tratamento é elaborado de acordo com as necessidades de cada paciente e sua faixa etária. A intervenção envolve uma equipe multidisciplinar:
- neuropediatra;
- pediatra;
- fonoaudióloga;
- terapeuta ocupacional;
- psicóloga.
O neuropediatra é responsável pelo diagnóstico, que se baseia no DSM-5 (manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais). Junto a equipe, ele estabelece o programa de tratamento e acompanha o desenvolvimento da criança ao longo dos meses que se seguem.
O neuropediatra também detecta e trata condições associadas como a epilepsia e distúrbios do sono, frequentes em pacientes com TEA.
O pediatra da equipe, por sua vez, acompanha o crescimento das crianças e avalia condições médicas associadas como obesidade, constipação intestinal, dor abdominal e refluxo gastro-esofágico. Ele também avalia a saúde dental dos pacientes.
Além da equipe principal, outros profissionais acompanham a criança com TEA de acordo com a necessidade, como o otorrinolaringologista, o oftalmologista e o nutricionista ou nutrólogo.
Estratégias de tratamento comprovadas
A maioria dos modelos de tratamento e intervenção baseados em evidências científicas seguem os princípios do ABA (Applied Behavior Analysis), uma ciência voltada para a compreensão e aprimoramento do comportamento humano.
As intervenções ABA são realizadas de forma individualizada e intensiva, focando nos comportamentos alvo por meio do reforço das habilidades não alcançadas, geralmente associadas à linguagem e comportamentos inadequados.
Terapia fonoaudiológica
As crianças com TEA apresentam atraso de linguagem e dificuldades de comunicação não verbal (como o uso de gestos e contato visual). Além disso, têm dificuldade na compreensão da linguagem dentro do contexto de uma conversa, por exemplo, o que dificulta as interações sociais.
A terapia fonoaudiológica promove o desenvolvimento dessas habilidades, melhorando a comunicação e a socialização da criança.
Outro aspecto tratado nessas sessões, quando necessário, são as dificuldades alimentares características do TEA, associadas à aceitação de diferentes texturas de alimentos.
Terapia ocupacional
Crianças com TEA muitas vezes apresentam dificuldades motoras que comprometem o auto-cuidado, o desenvolvimento da escrita e até as brincadeiras. A terapia ocupacional (TO) aborda e trata esses desafios, ajuda na criação das rotinas e orienta modificações no ambiente.
Outro problema frequente abordado nas sessões de TO são as alterações sensitivas, caracterizadas por reações diminuídas ou aumentadas a estímulos externos (ex: tato, audição).
Psicologia
O TEA está frequentemente associado a alterações psiquiátricas como:
- transtorno da ansiedade;
- transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH);
- transtorno disruptivo (agressividade, auto-agressão);
- transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
A abordagem desses problemas é feita por meio da terapia cognitivo-comportamental.
A psicóloga também é responsável pelo apoio à família e pelo treinamento dos pais e cuidadores.
Intervenções educacionais
Programas educacionais para crianças com TEA devem ser individualizados e promover o desenvolvimento de habilidades sociais, acadêmicas, adaptativas e de linguagem. O objetivo é aumentar as chances de um acesso futuro à educação superior e ao mercado de trabalho.
Existem alguns modelos de intervenção, utilizados conforme a idade e a necessidade da criança:
- LEAP (Learning alternative programs for preschoolers and their parents);
- TEACCH (Structured teaching).
Paralelamente, os educadores devem ser preparados para lidar com uma criança com TEA.
E, por fim: treinamento de pais
A participação dos pais e cuidadores no tratamento do TEA são fundamentais. Porém, muitas famílias têm dificuldade em aceitar o diagnóstico e a negação atrasa a busca por ajuda e o início do tratamento, piorando o prognóstico.
O apoio às famílias e o treinamento dos pais são parte importante do processo. As intervenções mediadas pelos pais, baseadas nas abordagens do ABA, trazem benefícios enormes para as crianças.
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Médica, especialista em pediatria e neurologia pediátrica. Atende na Magno Veras Clínica Pediátrica, em Belo Horizonte.